A opção por desenvolver uma narrativa seriada com cinco protagonistas diferentes permitiu mostrar, na minissérie “Cidade Invisível”, a complexidade da escravidão contemporânea
Vários fatores explicam a presença marcante da serialidade na televisão. A fragmentação do conteúdo pode ser percebida em novelas, programas de variedades e especiais jornalísticos. Segundo o professor de Cinema, Rádio e Televisão da Universidade de São Paulo (USP), Arlindo Machado, o formato seriado se justifica pela demanda contínua de programação na TV. A série é uma solução viável devido à existência de um protótipo que serve de modelo para as novas histórias e também pela possibilidade de filmar um episódio enquanto o outro é transmitido.
No caso da minissérie “Cidade Invisível”, a criação de núcleos narrativos foi essencial para explorar os diferentes aspectos da escravidão, que ainda ecoa na sociedade brasileira. A obra – a ser veiculada a partir de janeiro de 2017 – é formada por cinco episódios com protagonistas distintos. Para o diretor Renan Montenegro, a serialidade permite revelar realidades diferentes e “ajuda muito na hora de entender a diversidade do problema da escravidão moderna”.
Arlindo também defende que a série não é uma simples redundância, mas contribui para a história contada. Por exemplo, a estética da repetição colabora com o entrelaçamento dos elementos narrativos, as variações sobre o tema central e a metamorfose e a experimentação de novos estilos.
A minissérie da Forest se aproveitou principalmente do entrelaçamento. Nos quatro capítulos, o público é apresentado às vítimas, que sofrem com a violação de direitos, a exploração sexual e o trabalho infantil. “O último episódio serve para mostrar a história do ponto de vista dos personagens da classe média e classe média alta, inseridos no sistema da escravidão, ainda que não saibam”, exemplifica Renan. O objetivo é retratar as conexões entre os personagens, como também os interesses e estruturas de poder que tornam possível a escravidão em pleno século XXI.
Diferente de um longa-metragem, cuja história acompanha os mesmos personagens e cenários, a “Cidade Invisível” apresentou um desafio de produção. Gravada em Mato Grosso (no município de Cotriguaçu) e no Pará (Alter do Chão, Belterra e Santarém), a obra precisou encaixar as necessidades da narrativa seriada, das locações e da equipe como um quebra-cabeça. Renan sentiu como se estivesse dirigindo curtas-metragens paralelos.
Contudo, a amizade e a confiança no Thiago Foresti foram estratégicas para a produção da obra, cuja direção colaborativa foi compartilhada pelos dois profissionais. Renan reconhece o domínio de seu parceiro sobre o tema e o espaço retratado, a Amazônia. “O meu papel foi passar para a equipe o que era sonhado.”